Histórias do Bandiolo - agora também no Tosco

Um cão decidiu que naquele dia iria passear pela cidade. E foi indo, mijando em pneus, em postes, em árvores, em sapatos recém engraxados, e bebendo água em poças, para poder mijar em mais postes, árvores, pneus e sapatos recém engraxados. Não tinha fome, e nem precisava de tanto. Viu uma cadela no cio. Fez a sua parte e colaborou para a perpetuação da espécie. Um filho? Era muito jovem, e afinal, ela era uma poodle, de gente rica, teria quem cuidasse dos seus filhos. Não assumiu a paternidade, porque afinal, foi apenas um caso ao acaso, entre tantas mijadas e bebidas que estava a efetuar naquele dia.

As horas foram passando e o filho da puta do cão continuava na mesma. Só que também começou a mijar em muros de casas recém pintados. Levou pelo menos umas três pinceladas dos bocós daqueles pintores. Continuou. Até que quando se deu conta, estava no meio do nada. Era mato para um lado e para o outro. Árvores e mais árvores. Verde e mais verde. O verde era tão intenso que uma flor há mais de um quilômetro de distância era facilmente notada. Mas era tudo tão verde.

Olhou para cima e percebeu que já era noite. Olhou para a Lua e pensou: "que idiotas os cães de lá, não tem nada além de coisas brancas para fazerem a sua parte. Será que a Lua é feita de queijo? Será que aquele ratinho que eu comi ontem me falou a verdade antes de morrer?"

O cão então pensou mais um pouco, e chegou, ou não, a uma conclusão: "de queijo ou de batata, na Lua os cães não tem as árvores que eu tenho aqui".

E se atracou a mijar em todas as árvores.

Ficou lá, a noite inteira, e os próximos duzentos e cinqüênta dias seguintes, só mijando, bebendo água para mijar mais ainda, e perpetuando a espécie com qualquer cadela que passava na sua frente. Até que um dia o filho da puta do cão percebeu que ele estava mijando em árvores de uma zona de reflorestamento. Eram apenas eucaliptos.

Isso sim é que é vida de cão...