O pessoal foi chegando. Se amontoando. Entupindo, literalmente, sala,
cozinha, quartos, banheiros e todo o redor da casa. O pessoal foi
chegando. E chegando como se fossem donos. Da casa, dos quartos, da
pasta de dente, de mim. Como se aquilo fosse a vida deles. Como se
aquilo fosse algo deles. Mas não era. Nada era.
Parecia até festa de jovem bêbado de filme de jovens americanos. O cara
popular empresta a casa para a festa, todos bebem, divertem-se, há o
tradicional sexo no banheiro, nos quartos, em cima do sofá, do tapete
persa que a mãe dele recém comprara, atrás do matagal, do lado da
macieira. É aquela putaria toda. Aquela sujeira toda. Aquele vômito
todo. Aquela diversão... diversão?
Hei, essa casa é minha. Eu não sou popular. Não conheço vocês. O que
vocês estão fazendo aqui? Saiam já. E não finjam que não me ouviram.
Saiam daqui. Estou... porra, seu idiota, derrubou cerveja na minha
camisa, na minha calça... que droga, até a cueca ficou molhada de
cerveja. Mas que porcaria vocês estão fazendo? Ei, em cima desse sofá...
não...
Estúpidos, quem convidou vocês? Isso aqui, insisto, não é filme
americano. Não estamos nos Estados Unidos, muito menos no cinema. O quê?
Quebraram a televisão com uma latada de cerveja? Ãhrrrrrrrr. Que droga.
De onde vocês saíram? Não, por favor, nãaaaaaaaaaaaaaoooooo joga... Por
que você tinha que jogar esse vidro de whisky pela janela? Podia ter
aberto a janela pelo menos...
Que bagunça. A polícia chegou. O QUÊ? A polícia chegou? Caramba. Quero
ver o que vai acontecer com o dono da casa... Ei, eu sou o dono da casa.
Não, não seu policial, eu não sou responsável por isso. Tá, a casa é
minha mas... o quê? Bebida alcoólica para menores de 18? Que hipocrisia.
O que eu disse? Nada não, mas eu não comprei essa cerveja. Não. Nem o
whisky, nem a vodka, nem o absi... absinto? O que é isso? Ah... Não, eu
também não sou... plantador de maconha? Traficante? Ãh? Acharam uma
plantação de maconha lá no fundo do quintal? Como? Heroína e ecstasy
tudo no meu nome? Armaram para mim, eu não sou trafi... quem denunciou
disse que eu sou, também, dono de um prostíbulo? Mas seu... ah não...
eles tavam fazendo isso em cima do piano francês do século XII da minha
avó... Não... Mas eu não... Como? Sério, repete. Ãh??? Aquela vaga...
aquela mulher disse que eu contatei ela para animar os ... convidados?
Mas eu não convidei ninguém.
Tudo no meu nome? Quem é que... Peraí. Repete o nome. Ah ta, não sou eu.
Desculpa. Não sou mais o dono dessa casa, me mudei daqui há dias...
Esse que vocês procuram é aquele ali.
Obrigado seu policial, quase que um erro foi cometido. Não, não precisa
agradecer. Não não, eu não quero pegar uma vagabunda, pode ir lá
terminar o servi... tá. Não hoje, mas obrigado pelo convite, mesmo. Não
não, muito menos em cima do piano da minha... digo, da vó dele. Se é que
é da avó dele.Talvez seja pirateado. Não mesmo, vou embora, boa noite.
Sério, ainda não entendi como eu vim parar aqui. Ah ta, esqueci. Me
mudei dessa casa há dois dias. Hahaha. E pensar que o cara já teve tempo
de plantar maconha e montar um... Bom, preciso me despedir melhor da
casa, e daquele piano, mesmo que não seja o da minha avó. Já volto.
*qualquer semelhança com a realidade,
ou com a ficção é sim,
mera coincidência.
*escrito originalmente no Blog do Maluco, em 23/10/2009
2 comentários:
oiee moço... reapareci... deu saudade de vossa pessoa, rsrsrs como vai a vida? xeruuuu pra tu *-*
se eu não engano esse foi o primeiro texto seu que li ^^, desde então procuro sempre ver o que tu esecreves ^^
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